A Fundação L’Oréal e a UNESCO lançam o Festival For Women In Science

07 December 2021

A crise da Covid-19 provocou grandes retrocessos para os direitos das mulheres por toda a parte, incluindo na ciência. A pandemia e os bloqueios que a acompanharam vieram expor as disparidades existentes no sistema científico e alargar o fosso entre homens e mulheres.

Vários estudos mostram que as mulheres cientistas, particularmente as que têm crianças pequenas e no início das suas carreiras, têm sido desproporcionadamente afetadas pela pandemia.¹

E as mulheres investigadoras tornaram-se invisíveis na tomada de decisões, na liderança e nos meios de comunicação apesar do facto de terem estado na linha da frente na luta contra a COVID-19, desempenhando um papel fundamental em todo o mundo no avanço do conhecimento sobre o vírus, no tratamento de doentes e no desenvolvimento de vacinas.

É tempo de as vozes das mulheres cientistas serem ouvidas e respeitadas.

Para celebrar a excelência científica das mulheres e dar a conhecer algumas das principais e mais inspiradoras investigadoras de todo o mundo, a Fundação L'Oréal e a UNESCO estão a organizar um evento sem precedentes para o dia 7 de dezembro: o Festival For Women in Science

40 oradoras de todo o mundo falarão sobre a sua carreira e trabalho através de palestras, entrevistas e painéis de discussão. Um total de 40 vídeos originais serão transmitidos online mundialmente no dia 7 de dezembro de 2021, em events.forwomeninscience.com.

Na realidade, estas mulheres podem nunca vir a recuperar o tempo perdido: https://theconversation.com/female-scientists-set-back-by-the-pandemic-may-never-make-up-lost-time-163630

7 DE DEZEMBRO DE 2021: UM DIA INTEIRO DEDICADO ÀS MULHERES NA CIÊNCIA

Um debate centrado em dois assuntos principais

O Festival For Women in Science irá abordar duas questões centrais que foram colocadas no topo da agenda global pela crise da COVID:

• Avanços na saúde global: que papel irão desempenhar as mulheres na definição da nova agenda da investigação médica e no desenvolvimento de novos sistemas de saúde capazes de resistir a grandes choques e de prestar cuidados a todos?

• Descodificar a revolução digital, que foi acelerada pela crise sanitária e teve um forte impacto em todas as áreas do quotidiano. Neste contexto, como podemos assegurar que as cientistas, engenheiras e técnicas possam contribuir plenamente para o nosso novo mundo de ciência e tecnologia (da inteligência artificial e robótica à ciência dos materiais e armazenamento de energia) - e como podemos assegurar que estes avanços resultem para todos, sem quaisquer preconceitos ou discriminações?

O Festival também incluirá debates sobre os obstáculos que continuam a impedir as mulheres cientistas de progredir nas suas carreiras e como ultrapassar preconceitos e desigualdades sistémicos que impedem uma ciência inclusiva para o progresso inclusivo.

Um programa organizado por região

O Festival For Women in Science é organizado por região, para dar voz à comunidade global de mulheres investigadoras nas áreas STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) e para permitir que audiências de diferentes fusos horários possam assistir a conteúdos personalizados:

• 8:00: Ásia e Pacífico (CET)
• 10:30: África e Estados Árabes (CET)
• 13:45: Europa (CET)
• 17:30: América do Norte (CET)
• 20:15: América Latina e Caraíbas (CET)

Plataforma digital para ver o Festival em qualquer momento: events.forwomeninscience.com

A 7 de dezembro, as 5 sessões regionais serão transmitidas em events.forwomeninscience.com, em inglês, com legendas nas línguas locais (chinês e japonês para a Ásia e o Pacífico, árabe para África e os Estados Árabes, francês para a Europa, espanhol e português para a América Latina). Todas as 40 peças de conteúdo estarão disponíveis on demand como um evento global de trasmissão gratuita a partir de 7 de dezembro.

O público também poderá juntar-se à discussão, partilhando os vídeos nas suas próprias páginas de redes sociais votando nos seus conteúdos favoritos no website.

Antes do evento, a plataforma digital permitirá que o público possa:

• saber mais sobre os 40 oradores inspiradores e os temas das suas conferências,

• descobrir o programa específico para cada uma das 5 sessões regionais,

• registar-se para receber um lembrete por e-mail no dia anterior ao evento e descarregar um convite de calendário para 7 de dezembro, incluindo um link direto para aceder facilmente à plataforma.

A CIÊNCIA PRECISA DE MULHERES, MAS AS CIENTISTAS CONTINUAM A SER MARGINALIZADAS

As mulheres continuam sub-representadas nos níveis científicos mais elevados

Apesar de alguns progressos, apenas 33% dos investigadores em todo o mundo são mulheres, de acordo com o último Relatório de ciência da UNESCO.2 Esta evolução continua demasiado lenta, ainda se mantêm obstáculos importantes e a barreira invisível continua uma realidade na investigação. O acesso das mulheres aos postos de maior responsabilidade e reconhecimento continua a ser uma raridade:

• 2,4% das patentes na Europa entre 2013 e 2016 foram submetidas por mulheres.³

• Em 2019, as mulheres representavam apenas 19% dos inventores4

•Na inteligência artificial, uma das áreas de investigação mais avançadas, as mulheres representam apenas 22% dos profissionais⁵

• Nenhum dos vencedores do prémio Nobel da ciência de 2021 foi mulher. Desde a criação do Prémio, em 1901, as mulheres representaram menos de 4% dos prémios científicos.

Esta situação é o resultado de barreiras sistémicas, de preconceitos inconscientes, de auto-censura, mas também de sexismo persistente e discriminação em todas as fases da carreira das mulheres cientistas.

Não é só um problema para as mulheres: é um problema para a investigação em geral

Para ser relevante, a investigação deve ser inclusiva e precisa de mobilizar todos os seus talentos. Para enfrentar os desafios atuais e futuros, a igualdade de género tem de estar enraizada nas soluções que ainda estão para ser criadas.

A experiência mostra que a falta de diversidade nas equipas de investigação tem levado a retrocessos na inovação.

Por exemplo, a tecnologia de reconhecimento facial foi assinalada como discriminatória quando um estudo mediu a precisão dos sistemas de classificação ponderados por género e tipo de pele, que são utilizados nos setores de alto risco, como é o caso da saúde e justiça.6

Os resultados mostraram que os sistemas tiveram um desempenho muito melhor para os homens do que para as mulheres, uma discrepância exacerbada por diferenças na cor da pele, fazendo com que as mulheres de pele mais escura sejam frequentemente mal classificadas. Embora as taxas de erro fossem tão baixas como 1% para os homens de pele mais clara, atingiram 7% para as mulheres de pele mais clara e 35% para as mulheres de pele mais escura. Estes péssimos resultados fizeram abrandar significativamente a adoção desta tecnologia.

Uma investigação mais inclusiva traria enormes oportunidades

Estima-se que a redução do fosso entre géneros na educação STEM contribuiria para um aumento de PIB per capita na UE entre 2,2 e 3% até 2050.7

O setor da IA está em rápida expansão: de 2015 a 2017, o número de trabalhadores em todo o mundo com competências em IA aumentou em 190%.⁸

Por último, mas não menos importante, as equipas de investigação diversificadas em termos de género são mais suscetíveis de colocar no mercado inovações mais radicais durante um período de dois anos e muitas empresas lideradas por mulheres tiveram, historicamente, um desempenho três vezes melhor do que as que têm CEO masculinos.9

O programa da L’Oréal - UNESCO For Women in Science: um compromisso de longo prazo

Com base na convicção de que o mundo precisa da ciência e a ciência precisa das mulheres, a Fundação L'Oréal e a UNESCO estão empenhadas há mais de 20 anos em promover as mulheres na ciência para lhes dar mais visibilidade, dar a conhecer o seu talento e inspirar carreiras para as gerações futuras.

Todos os anos, a Fundação L'Oréal e a UNESCO celebram a excelência científica de cinco eminentes mulheres investigadoras, cada uma proveniente de uma grande região do mundo, e apoiam mais de 250 jovens mulheres cientistas de todo o mundo.

Desde a criação do programa Women in Science em 1998, 122 Laureadas e mais de 3800 jovens cientistas talentosas, estudantes de doutoramento e bolseiras pós-doutoramento, adquiriram competências e receberam menções honrosas em mais de 110 países e regiões.

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1 As mulheres cientistas reportaram uma redução no tempo de investigação 5% superior do que os seus homólogos masculinos. Para algumas, com pelo menos uma criança pequena, esse declínio subiu para 17%. https://en.unesco.org/news/covid-19-pandemic-disproportionately-affecting-women-science-and-engineering.

2 Relatório de Ciência da UNESCO: “the Race Against Time for Smarter Development”, UNESCO Publishing (2021).

3 Comissão Europeia 2018 She figures report.

4 Organização Mundial da Propriedade Intelectual, maio 2020, citado na Figura 3.6 do Relatório de Ciência da UNESCO, 2021

5 Comissão Europeia 2018 She figures report.

6 Buolamwini, J., & Gebru, T. (2018). Gender shades: Intersectional accuracy disparities in commercial gender classification. Proceedings of Machine Learning Research, 81, 77-91.

7 Relatório de Ciência da UNESCO: “the race against time for smarter development”, 2021

8 Fórum Económico Mundial, 2018

9 Mathias Wullum Nielsen, Gender diversity leads to better science, PNAS, 2017;

https:// fortune.com/2015/03/03/women-led-companies-perform-three-times-better-than-the-sp-500/

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Acerca da Fundação L’Oréal
A Fondation L'Oréal apoia e habilita as mulheres para moldarem o seu futuro e fazerem a diferença na sociedade, concentrando-se em três grandes áreas: investigação científica, beleza inclusiva e ação climática. Desde 1998, o programa L'Oréal-UNESCO For Women in Science tem trabalhado para capacitar mais mulheres cientistas a ultrapassar barreiras à sua progressão e para participarem na resolução dos grandes desafios do nosso tempo, para o benefício de todos. Durante 23 anos, apoiou mais de 3900 mulheres investigadoras de mais de 110 países e regiões, recompensando a sua excelência científica e inspirando as gerações mais jovens a seguir a ciência como uma carreira. Convencida de que a beleza contribui para o processo de reconstrução de vidas, a Fondation L'Oréal ajuda as mulheres vulneráveis a melhorar a sua auto-estima através de tratamentos de beleza e bem-estar gratuitos. Também permite às mulheres desfavorecidas o acesso ao emprego com uma formação profissional dedicada à beleza. Em média, cerca de 16000 pessoas têm acesso a estes tratamentos gratuitos todos os anos e mais de 18000 participaram em formações profissionais de beleza, desde o início do programa. Finalmente, as mulheres são afetadas pela contínua discriminação e desigualdades com base no género, exacerbadas pelas alterações climáticas. Apesar de estarem na linha da frente da crise, continuam sub-representadas no processo de tomada de decisões sobre o clima. O programa Women and Climate da Fondation L'Oréal apoia, em particular, as mulheres que estão a desenvolver projetos de ação climática que abordam a crise climática urgente e sensibilizam para a importância de soluções climáticas sensíveis ao género.

Acerca da UNESCO
Desde a sua criação em 1945, a UNESCO, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, tem trabalhado para criar as condições para o diálogo entre civilizações, culturas e povos, com base no respeito pelos valores comuns. A missão da UNESCO é contribuir para a construção da paz, erradicar a pobreza, promover o desenvolvimento sustentável e o diálogo intercultural através dos seus conhecimentos únicos em educação, ciência, cultura, comunicação e informação. A Organização tem duas prioridades globais: África e a igualdade de género. A UNESCO é a única agência especializada da ONU com um mandato específico nas ciências, simbolizado pelo "S" no seu acrónimo. Através dos seus programas relacionados com a ciência, a UNESCO contribui para a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, ajuda os países em desenvolvimento a construir as suas capacidades científicas e tecnológicas e apoia os Estados Membros nos seus esforços para desenvolver políticas e programas científicos. Também apoia os Estados Membros nos seus esforços para desenvolver políticas públicas eficazes que integrem sistemas de conhecimento locais e nativos. A UNESCO promove a investigação científica e os conhecimentos especializados nos países em desenvolvimento. A Organização lidera vários programas intergovernamentais sobre gestão sustentável da água doce, dos oceanos e dos recursos terrestres, conservação da biodiversidade e utilização da ciência para enfrentar as alterações climáticas e a redução do risco de catástrofes. Com os seus gabinetes nacionais e regionais em todos os continentes, a UNESCO apoia a cooperação científica internacional e trabalha com muitos parceiros a nível global, regional e nacional. Através dos seus parceiros, a Organização pode recorrer a recursos, know-how e experiência para promover os seus valores e ideais e para reforçar o impacto e a visibilidade da sua ação em todos os seus domínios de competência.